sexta-feira, 9 de setembro de 2016

O PERIGO DO EXPERIENCIALISMO "CRISTÃO"

Uma grande onda de confusão e de desentendimento se apoderou da vida de muitos cristãos cujo estilo de vida é bastante superficial, completamente distante do padrão de conduta que a Escritura Sagrada ensina e requer de nós. Revelação de um lado, visão do outro, profecia daqui, “arrebatamento em espírito” de lá e assim por diante. Verdade é que a Bíblia Sagrada fala dessas coisas mostrando que podem ser a livre ação do Espírito Santo; por outro lado, o absurdo, o excesso, o ridículo e porque não dizer o abuso acerca do que podemos demarcar aqui como “fenômeno do sobrenatural” tem afetado muitas denominações, deturpando a sua estrutura bíblico-doutrinária. A verdade é que quando essas coisas predominam, a Palavra de Deus já fica banalizada, sendo relegada a uma posição de inferioridade.  


Todavia, o que muitos ignoram é que em momentos como esse em que certas “revelações” nos deixam um tanto confusos e “com uma pulga atrás da orelha”, deveriam recorrer ao que diz a Bíblia Sagrada acerca dessas coisas. Ela é a base, o fundamento, o ponto de equilíbrio, o norte condutor para o cristão que almeja uma vida plena no Espírito. Por esses dias, ouvi o relato de uma certa irmã que afirmou ter ido “em espírito” ao inferno e que lá avistou criançinhas inocentes em tormentos no fogo eterno e, ao perguntar ao “varão de branco” o porquê daquelas crianças estarem ali, o tal varão respondeu que elas ali estavam porque não se arrependeram de seus pecados e não conheceram o caminho da Salvação, que é o Senhor Jesus. Ora, caro leitor amigo, não é essa tal visão um confronto ao que diz a Escritura Sagrada? Vamos analisar o caso passo-a-passo: 1) Verdade é que todos nós nascemos em pecado (Sl 51.5; 58.3); 2) Verdade é que Jesus Cristo é o único Caminho da salvação (Jo 14.6; At 4.12; 1 Tm 2.5) e 3) não podemos esquecer que o pecado afetou todas as esferas da vida humana, destacando aqui a esfera moral, isso significa que existe diferença entre nascer em pecado e ter consciência do pecado. Com base nisso, descarta-se por inteiro a “revelação” que teve essa tal irmã. Não se pode negar a livre ação do Espírito Santo no meio do povo de Deus, particularmente na vida daqueles que se consagram verdadeiramente em oração, jejum e, sobretudo, em fidelidade a Deus e à Sua Palavra. Ao revés, não se pode deixar de reconhecer como muitos ministros, líderes de Igrejas reagem de maneira tão obtusa diante de tais coisas.


As coisas vão indo de mal a pior. A Bíblia sendo interpretada à luz de certas experiências, quando deveria ser o contrário. Convém salientar que a Palavra de Deus é soberana, ou seja não podemos submetê-la ao nível do conhecimento humano. Vale acrescentar neste espaço as palavras do apóstolo Paulo: “E eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não fui com sublimidade de palavras ou de sabedoria” (1 Co 2.1). Os crentes em Corinto entenderam as palavras do apóstolo. Corinto fazia parte da Província Grega, terra da cultura, da sabedoria, da beleza, do comércio e da filosofia, o que parece mostrar que os coríntios achavam que eloquência humana por si só convenceria os pecadores à salvação. Paulo mostra que a Palavra de Deus não está presa ao conhecimento humano, à sublimidade de palavras, ao saber filosófico, ao domínio da retórica, pois, como já foi dito, ela é soberana, logo, sobrepuja a tudo e a todos. O mesmo caso se aplica à determinadas experiências de homens e mulheres que falam ter visto coisas e passam isso como regra de vida e fé para os seus ouvintes. Quando o assunto é experiência, elas devem ser exploradas no campo da individualidade e não no campo da coletividade, o que infelizmente vem acontecendo; e quando essas coisas são priorizadas, logo, a Palavra de Deus fica banalizada e, o que era para ser uma vida espiritual solidificada, embasada e alicerçada nas Escrituras, fica uma vida emaranhada de enganos, desvirtuando o verdadeiro propósito de servir a Deus.


Em sua segunda carta a Timóteo, Paulo escreve ao jovem pastor que a Palavra de Deus podiam fazê-lo sábio “para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus” (2 Tm 3.15). O Apóstolo falava isso da Palavra de Deus e não de outra coisa mais. Não poderia ele pôr em relevo aqui a sua experiência de 2 Coríntios 12? A verdade explicitada por Paulo é que nada está acima da Palavra de Deus, “viva, e eficaz” (Hb 4.12). Somente ela pode nos nortear para a perfeição em Cristo, nos conduzindo em sabedoria para não cair no erro, como tem sucedido a muitos.


É bíblico afirmar que Deus tem Seus ministros na Terra, homens e mulheres cheios do Espírito Santo que possuem uma vida íntegra na Sua presença e em meio a sociedade. É bíblico afirmar que Deus ainda Se manifesta no meio do Seu povo e através do Seu povo, para trazer o pecador à salvação. É bíblico afirmar que o Senhor Deus ainda desvenda Seus ricos mistérios da Sua Palavra, para edificação da Sua Igreja e para a glória do Seu Nome (1 Co 2.10; Ef 3.10-12; Cl 2.2,3). Entretanto, é antibíblico essa onda de experiencialismo que se aflora no Seio da Igreja Cristã nestes últimos dias, enganando os incautos e desestruturando a fé de muitos na Pessoa de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Oremos pela Igreja de Cristo no Brasil. A Igreja de Cristo precisa se arraigar novamente nos fundamentos da Palavra de Deus.


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