sexta-feira, 17 de abril de 2020

TEOLOGIA e TEOLOGISMO: como diferenciar

Os incautos deveriam atentar para esta diferença, pois, tudo o que vemos é uma gritante confusão em torno do assunto. Há quem enxergue a Teologia como um bicho de sete cabeças ou como um instrumento que leve as pessoas à frieza e ao distanciamento de Deus. Não é bem assim. Considerando que Teologia é o estudo ou o Tratado acerca de Deus, de Suas obras e de tudo quanto a Ele se relaciona, por quê tanta rejeição a ela? Como se tornar incrédulo ao estudar os atributos da Divindade e sua Pessoalidade?

Convém salientar que a Teologia é uma ciência. Por esta palavra entendemos, segundo a definição das maiores autoridades no assunto, como o conjunto de conhecimentos sistematizados, confirmados no campo da experiência. Uma teoria só pode ser colocada no patamar científico quando confirmada empiricamente. Quando a experiência evidencia o resultado proposto na teoria, temos então, uma ciência. Com a Teologia não é diferente. Sua base é a fé e a experiência se delineia num relacionamento vívido entre o teólogo e Deus, dando preciosos frutos de piedade. O conhecimento teológico não perde o seu valor, haja vista que existe dois tipos de estudiosos:

1- Os que buscam conhecimento para fortalecer sua relação com Deus;

2 - Os que se utilizam dela de maneira jactanciosa, atiçando a sua soberba.

Os que enveredam pelo caminho da soberba, atendo-se apenas às letras teologais, mal sabem a sua miséria de espírito. Não temos na Teologia um conhecimento meramente lógico, muito embora a lógica seja importante no alinhamento de ideias que, ordenadas, dão corpo a toda a estrutura teológica. Porém, o teólogo deve se certificar que a referida logicidade é a janela que nos faz olhar para a transcendentalidade de Deus. De posse deste conhecimento, a fé passa a ser o veículo que nos conduz às águas mais profundas.


Deste modo, qual a base da Teologia? A Fé! Qual a sua ênfase? O Espírito Santo! Qual a sua finalidade? Colocar o teólogo aos pés de Cristo! Vejamos: 

Sua base: A Fé: "Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que não se veem" (Hebreus 11.1 - ARC).

Vejamos o que nos diz as outras traduções: 

"Ora, a fé é a certeza das coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não veem" (ARA);

"Ora, é a fé é a substância das coisas esperadas, a prova das coisas não vistas" (Tradução Brasileira);

"Ora, a fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos" (NVI); 

"Ora, a fé é a substância das coisas pelas quais esperamos, a evidência das coisas não vistas" (King James);

"Mas eis que a fé é a convicção das coisas que se esperam como se já fossem realidade, e é a revelação das coisas que não se veem" (PESHITTA); 

"A fé é a garantia dos bens que se esperam, a prova das realidades que não se veem" (Bíblia de Jerusalém);

"A fé é um modo de possuir desde agora o que se espera, um meio de conhecer  realidades que não se veem" (Tradução Ecumênica Brasileira).

Pelo que se depreende destas traduções e de outras que poderíamos citar aqui, vemos a desconstrução do mito que paira na mente de uma grande maioria de pessoas que definem a fé como mero pensamento positivo ou sensação de otimismo. Há algo de valor nesta fé, pois, por ela: se alcança o testemunho (Hebreus 11.2), "entendemos" que o mundo foi criado pela palavra de Deus (Hebreus 11.3) e, finalmente, agradamos a Deus e nos aproximamos dEle para O buscar diligentemente (Hebreus 11.3).

Vemos que esta fé não cria Deus, ao contrário, Ele já existe! Esta fé conduz o ser humano ao seu verdadeiro alvo: o Criador. Porém, como a fé é "o firme fundamento", logo, não se trata de uma mera base de sustentação, é o alicerce no qual se apóia a genuína teologia bíblica.

Sua ênfase: O Espírito Santo: "Mas, quando vier aquele Espírito da verdade, ele vos guiará em toda a verdade, porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará o há de vir" (João 16.13). Ele "guiará" o cristão em toda a verdade. O homem, por si só, jamais compreenderá a sublime verdade do Evangelho se não for com a ajuda do Espírito Santo. A Teologia não se limita à letras, pelo contrário, ela vislumbra a Palavra de Deus como muito mais do que uma conjuntura de letras, palavras e frases; ela é a Espada do Espírito (Efésios 6.17)! Ela é viva e eficaz (Hebreus 4.12)! A Teologia é saudável e nos faz olhar por este prisma a busca pelo conhecimento cuja finalidade é fortalecer a nossa relação com Deus.

O Apóstolo Paulo fala em Romanos 12.2 sobre a "renovação do vosso entendimento". Aqui temos o entendimento humano vivendo uma realidade além do natural. A mesma Bíblia nos mostra que o novo homem "segundo Deus é criado em justiça e santidade" (Ef 4.24). Justiça e santidade são os dois pilares de uma vida de entendimento moldada pela Palavra de Deus.

Sua finalidade: Colocar o Teólogo aos pés de Cristo. A Teologia não muda, não converte o ser humano. Isso é obra do Evangelho no poder do Espírito Santo (Rm 1.16). Porém, ela aponta o caminho que nos leva a uma vida de piedade e santidade: a Palavra revelada e encarnada de Deus, que é Cristo. Todo o testemunho das Escrituras concorre para isso. A palavra de Deus é Luz (Sl 119.105), sendo a Teologia uma candeia, e por meio dela podemos vislumbrar com clareza as verdades nela expostas.

A grosso modo, a Bíblia Sagrada é uma Teologia infalível. Ela é a base de sustentação de todo o edifício teológico, desenvolvido ao longo da História por grandes estudiosos. Cristo é o tema central. Todas as cadeias temáticas convergem para Cristo. Se falamos na Criação, falamos  em Cristo, visto que nEle "foram criadas todas as coisas" (Cl 1.16); se falarmos na atuação do diabo ao longo da História, remete-nos a Cristo, o Messias cuja vinda Satanás procurou obstruir de todas as formas (Gn 3.15); se falarmos no Velho Concerto, falaremos no Cristo Filho de Deus pois ele é o cumprimento cabal dela (Mt 5.17; Rm 10.4); se falarmos na história do pecado, seremos obrigados a falar na História redentora da graça (Jo 1.17), pois, o Senhor Jesus, que não conheceu pecado, se fez pecado por nós (Jo 8.46; 2 Co 5.21). Vemos que tudo aponta para Cristo; não há outro caminho para o Teólogo; o Estudo da Teologia é o caminho pavimentado pelas verdades bíblicas que nos conduz ao Cristo vivo e ressurreto. A Ele seja a glória eternamente!

Quando percorremos este caminho, temos Cristo como a nossa fonte de devoção e quando isso acontece, terá a Teologia alcançado seu resultado. Glória a Deus nas alturas.

TEOLOGISMO 

O teologismo é oposto da genuína teologia. A partir do estudo acima do que a Teologia é e representa, compreendemos exatamente o quanto o teologismo pode ser nocivo. O teologismo nada mais é que o apego exacerbado à letra, desprezando o espírito dela. Em vez da racionalidade, predomina o racionalismo, ignorando a transcendentalidade da revelação bíblica e sua inspiração plenária. Colocar a razão como fundamento precípuo torna-se um obstáculo ao verdadeiro objetivo da Teologia.

É como uma pessoa que deseja ir ao shopping e precisa ir de carro. O Veículo será importante para levá-lo ao seu lugar de destino, mas, tendo alcançado o seu objetivo de chegar aonde pretendia, não precisará mais do carro. O Teologismo prende as pessoas à razão sem mostrar-lhes "o caminho ainda mais excelente" ficando confinados ao exercício de uma fé que não destila sede de Deus e de um relacionamento com Ele.

O Teologismo é um terreno movediço. Por encabeçar o conhecimento metódico como a base suficiente de todo o aparato teológico, muitos acabam se encurralando na morbidez intelectual, dissociando o saber teológico da espiritualidade e da fé viva em Cristo que pode nos levar a patamares ainda maiores.


REFERÊNCIAS: 

Strong, Augustus Hopkins, TEOLOGIA SISTEMÁTICA, Volume 1. Hagnus