sexta-feira, 16 de setembro de 2016

O Perigo da "Milagrolatria"

É estarrecedor o que vemos em muitas Igrejas no Brasil. Não me canso de dizer que muitos absurdos que encontramos em certas comunidades de fé ocorrem devido a falta de um conhecimento genuíno da Palavra de Deus. Conceitos errôneos sendo adotados por muitos líderes e pregoeiros da Palavra de Deus vem induzido muita gente a uma vida supérflua, totalmente vazia de  Deus e cheia de emocionalismos fúteis que não produzem edificação alguma. Não para por aí. Algumas denominações, de forma abusiva, procuram se prevalecer sobre as outras, dizendo entre muitas coisas: “Milagre só aqui na Igreja...”, “se na igreja onde você está não acontece milagre, vem pra nossa...”. Em vez de seriedade, o que vemos é uma tão grande palhaçada entre certos líderes que atitudes como estas ferem o verdadeiro perfil da Igreja de Cristo.
Muitos não entendem que coisas desse tipo é como um banho de água lamacenta sobre a imagem da Igreja de Cristo, prejudicando-a e deixando desacreditada na sociedade. Denunciam os católicos por suas práticas idolátricas e nós, evangélicos? A “milagrolatria” está predominando em muitas Igrejas, as quais, em vez de direcionarem sua atenção para o Senhor dos milagres (Hb 12.2), focam apenas no milagres vendo estes apenas como uma forma de se sentirem impressionados, quando deveriam glorificar ao Deus dos grandes feitos. E qual o resultado dessa balbúrdia? Crentes com uma vida espiritual raq   uítica, um conceito mórbido de cristianismo e, em vez de progredirem na fé, acabam por regredir cada vez mais. A pergunta é: onde estão os líderes “milagreiros” que não atentam para isso? Eles realmente se importam com a vida espiritual dessas pessoas? Existe por acaso uma preocupação em torno disso? Pessoas entram e saem vazias  e os líderes e pregoeiros agindo como se isso pouco importasse. Reforçando: falta conhecimento da Palavra de Deus!
Tomaremos como base o texto de Atos capítulo 3. Tendo o apóstolo Pedro ministrado a cura sobre o paralítico na porta do Templo, chamada Formosa, este entrou “no templo, andando, e saltando, e louvando a Deus. E todo o povo o viu andar e louvar a Deus” (At 3.8,9). O que acontece com muitos hoje quando recebem uma determinada benção? Saem da Igreja, difamam a Igreja, em vez de reconhecerem a misericórdia daquEle que é poderoso para nos abençoar e conceder o que lhe pedimos. Olham para Deus como se fosse meramente um “gênio da lâmpada” a quem pode pedir o que quiser e, depois, desdenhá-Lo. O nosso Deus é Senhor, é Soberano, o Todo-Poderoso, e como Tal, deve ser crido, temido e obedecido. Uma pessoa que foca em sua vida apenas um milagre, uma benção e não aquEle que tem poder para dar e fazer muito mais precisa se converter de verdade, precisa conhecer o verdadeiro, suficiente e poderoso Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo, que é o poder de Deus “para a salvação” (Rm 1.16). Quem vive aquém desta verdade gloriosa ainda não sabe o que é realmente servir a Deus.
O literato prossegue dizendo que o paralítico, sendo curado, entrou no templo, “andando, e saltando, e louvando a Deus” (At 3.8,9). Louvando a quem? A Deus! Não foi a Pedro e nem a João, homens consagrados na oração e no ministério da Palavra (At 3.1; 6.4). Mesmo sendo estes homens de grande virtude, aquele que, outrora, era enfermo, reconheceu que a sua cura provinha de Deus e, por isso, O louvou e O reverenciou. O milagre que recebemos é como o pão que compramos na padaria. Todos irão dizer que o pão é bom e de qualidade, mas quase ninguém irá lembrar do trabalho do padeiro para que aquele pão chegasse à mesa do cliente, tão delicioso e apetecível. Do mesmo modo são os milagres. Todos irão falar da “grandeza” do milagre, mas nem todos irão mencionar da grandeza daquEle que o fez. O propósito do milagre é honrar a Deus e louvá-Lo com temor e presteza e não fazer o que vemos em nossos dias:  a “divinização” dos pregadores “milagreiros”, esquecendo-se do Deus do sobrenatural.
Após o milagre ter acontecido, diz o hagiógrafo que “todo o povo correu atônito para junto deles no alpendre chamado de Salomão” (At 3.11). É óbvio que o povo, vendo que aquele acontecido era de procedência sobrenatural, ficariam “atônitos”, ou seja, “espantados”, “perplexos”, “admirados”, pois, no “nome de Jesus Cristo, o Nazareno” (At 3.6), os apóstolos fizeram algo que foge às leis da naturalidade, o que chamamos de “milagre”. O que fez o apóstolo Pedro? Esbanjou a sua vida religiosa aos seus ouvintes? Expôs ao público a sua vida diária de oração (At 3.1)? Agiu semelhante ao fariseu, se exaltando, como fazem muitos hoje (Lc 18.10-14)? O que fez Pedro vendo que a multidão correu junto dele e de João? Pregou a Palavra de Deus! Pelo que depreendemos das narrativas, vemos ali uma pregação Cristocêntrica! O intrépido pregador não deu ênfase ao milagre já ocorrido, pelo contrário, ele aproveitou a ocasião para falar da Pessoa bendita do Senhor Jesus! Ele começa a sua prédica, dizendo: “O Deus de Abraão, e de Isaque, e de Jacó, o Deus de nossos pais, glorificou a seu Filho Jesus...” (At 3.13). Pedro exaltou o Senhor do milagre. Ao invés de falar do efeito (o milagre), Pedro dignificou a Causa (o Senhor, que opera milagres), a Causa primaz para Quem todo o povo deveria fitar os seus olhos. A pregação de Pedro tinha como tema a vinda de Cristo, segundo as profecias veterotestamentárias, para prover a salvação aos homens, conforme o plano de Deus que cumpriu fielmente tudo o que fora falado pelos profetas, trazendo ao mundo o Salvador e Redentor da humanidade (At 3.13-26).
É o Evangelho que é “o poder de Deus” (Rm 1.16), não o milagre. É o Espírito Santo quem convence o homem “do pecado, e da justiça, e do juízo” (Jo 16.8), não o milagre. O nosso objetivo, aqui, não é banalizar a natureza do milagre, ao contrário, é conscientizar quanto ao ponto de equilíbrio que deve haver nesta questão, vista de maneira tão errônea pela maioria das pessoas. De acordo com os grandes estudiosos das Escrituras, os Evangelhos relatam que, das 90 vezes que as pessoas se dirigiam a Jesus, 60 vezes O chamavam de “Mestre”. Vários relatos das Escrituras mostram o Senhor Jesus ensinando ao povo (Mt 4.23; 7.28,29; Lc 20.1; ver Mt 28.19,20; etc). Da mesma forma como Jesus realizava milagres, também destilava a Palavra de Deus a todos os que Lhe ouviam ( ver Mt 5-7).

Sejamos cautelosos. Possamos nós estar embasados na Palavra de Deus, pois, são muitos os enganadores e os enganos que permeiam nos altares das Igrejas.

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