A
doutrina bíblica do amor constitui-se um dos principais baluartes do
cristianismo e, lamentavelmente, esquecida no púlpito das igrejas. Podemos definir
o amor como o eixo central da vida cristã, o que vemos comprovado em 1
Coríntios 13. Contudo, o que percebemos são pessoas que professam a fé em
Cristo com um modo de vida contrário aos princípios bíblicos.
Os
grandes intérpretes da Bíblia sintetizam três tipos de amor: o amor agape, phileo e o amor eros. Vejamos,
à luz das Escrituras, a definição desses três.
1) O
amor agape é apresentado nas
Escrituras como o amor de Deus,
profundo, ardente, incomparável e sublime. É o amor com que Deus amou o mundo (Jo
3.16), com que Jesus amou os Seus (Jo 13.1) e com o qual o cristão corresponde
a Deus através da observância aos seus mandamentos (Jo 14.21); o mesmo amor que
Jesus requereu de Pedro (Jo 21.15) e, certamente, de todos quantos dizem servir
ao Senhor de coração.
O amor deve ser entendido, na
sua essência, como um sentimento voluntário e predisposto e não algo obrigatório, ou seja, ninguém ama porque
é obrigado a isso e sim porque tal sentimento é resultado da vontade própria de
alguém. Assim, quando lemos que Deus amou
o mundo (Jo 3.16), vemos no Deus Criador o anelo de aproximar de Si a
criatura racional, isto é, o homem, uma vez distante da presença divina. Em momento
algum encontramos na Sagradas Escrituras Deus obrigado a fazer alguma coisa em favor do homem, pelo contrário, o
que move a potente mão do Senhor de forma graciosa sobre o mesmo é a Sua
soberania e amor infinito.
Escrevendo aos crentes em
Corinto, o apóstolo Paulo diz: Agora,
pois, permanecem a fé, a esperança e a caridade [gr. Agape], estas três; mas a
maior destas é a caridade [gr. Agape]
(1 Co 13.13). Estas três coisas possuem algo em comum, como podemos ver: “Ora,
a fé é... a prova das coisas que não se
vêem” (Hb 11.1); “... a esperança que se
vê não é esperança; porque o que alguém vê como o esperará? Mas se
esperamos o que não vemos, com
paciência o esperamos” (Rm 8.24,25); e, finalmente, o amor, uma coisa que
também não se pode ver, não obstante, é uma realidade suprema que pode ser
sentida qual vento que não é visto mas o percebemos através das suas obras.
Interrogado por um Doutor da
Lei acerca do grande mandamento, o Mestre Jesus lhe responde claramente: “Amarás
o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o
teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante
a este, é: amarás o teu próximo como a ti mesmo. Desses dois mandamentos
dependem toda a lei e os profetas” (Mt 22;37-40). Entendemos, aqui, o que o
amor segue duas linhas: a vertical (“amarás o Senhor, teu Deus”) e a horizontal
(“amarás o teu próximo”). Uma vez que Cristo não veio revogar a lei, mas
cumprir (no original, “completar”) e que “desses dois mandamentos dependem toda
a lei e os profetas”, Ele demonstrou isso por Si mesmo quando estava na Cruz do
Calvário. Dela não fugiu por obediência e amor a Deus Pai e nela sofreu
amargamente por amor ao pecador; Jesus, a maior personalidade da História! E o
grande exemplo de alguém que amou a Deus e ao próximo até mesmo na dura cruz!
A nascente Igreja do Senhor
Jesus, nos seus primeiros anos, gozava de plena comunhão fraternal. Motivados por
essa tal comunhão, realizavam, semanalmente, banquetes denominado “festa ágape”
revelando, com isso, a convicção do amor profundo da parte de Deus entre Seus filhos
e de uns para com os outros; a referência de Atos 2.42 dá ênfase a isto.
O amor ágape, tendo sua origem
em Deus, tem como objeto principal o homem, embora pecador e distante daquEle
que o criou. Em algumas traduções, o termo em estudo vem substituído pela
palavra “caridade” que é “o amor através das obras”. O amor de Deus está
centralizado evidencialmente na obra da redenção feita por nosso Senhor Jesus
Cristo. Outrossim, a maioria das vezes em que a palavra agape aparece nas Escrituras é no sentido verbal, ou seja, não
basta um simples sentimento pois o amor genuíno provoca ação.
2)Uma
outra definição de amor está no termo grego phileo
que denota “afeição por amigos ou parentes”. Quando o Senhor Jesus interrogou a Pedro: “amas-me?”
[gr. Agape], ele respondeu: “Sim,
Senhor, tu sabes que te amo” [gr. Phileo]
(Jo 21.15), mostrando simplesmente um sentimento de amizade. Na terceira vez o
Senhor usou o termo phileo, razão
pela qual Pedro se entristeceu levando-o também a reconhecer a onisciência de
seu Mestre (Jo 21.17). O termo “filantropia”, do original philanthropia que significa “amor pela humanidade” descrevendo um
amor expresso de forma social pelo bem humano. Associado ao termo phileo encontramos o vocábulo philostorgos citado em Romanos 12.10
para designar “amor fratenal”.
3)Um
outro termo para amor é a palavra eros,
daonde vem o nosso adjetivo “erótico” que diz respeito ao desejo sexual. Ele aparece
de forma ampla e erudita na filosofia de Platão e, portanto, não aparece nas
Escrituras, mas, reflete um desejo sexual lascivo e fortemente intenso neste
sentido que assinalamos.
Na teologia bíblica, o amor é
retratado sob três pontos de vista: (1) o amor de Deus ao homem, (2) do homem a
Deus e (3) do homem para com os seus semelhantes. Vejamos:
O amor de Deus ao homem é visto
através da Sua compaixão e benignidade; isso é demosntrado em larga escla no
Livro dos Salmos, onde os salmistas reconhecem que o Senhor é bom e que “a sua
benignidade é para sempre” (Sl 106.1); o fato de Deus conhecer a nossa
estrutura e que somos pó (Sl 103.14) indica a misericórdia divina sobre a
criatura humana decaída. O amor do Senhor com o homem se revela por meio destes
e outros atributos morais, fazendo-nos preceber a Sua preocupação com os homens
(Dt 33.3), motivo de admiração e regozijo (Sl 8.4,5). Aos patriarcas, Deus
manifestou o Seu amor por meio de consideráveis promessas e especialmente na
escolha de Israel, tendo com isso um amor eletivo (Dt 7.7,8), um zelo profundo
(Dt 4.24b). Em um sentido amplo, Deus ama todos os homens e estende sobre eles
a Sua benevolência (Sl 104.14; 136.25; Mt 5.45). Mas a maior resposta do amor
de Deus ao homem é dada na encarnação do Verbo (Jo 1.14), onde o Filho de Deus
Se tornou homem para que os homens se tornassem filhos de Deus (Jo 1.12,13; Rm
8.29; Hb 2.10-12)!
O amor do homem a Deus abarca a
totalidade da nossa vida em obediência a Ele: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu poder” (Dt 6.5). Também se
destaca na observação da Sua Lei que faz o homem afastar-se da impiedade (Sl 1.1,2)
explicando-nos uma relação de amor e comunhão com o Senhor (Sl 73.28). Ainda na
teologia bíblica, amar a Deus é também amar a Sua Palavra (Sl 119.97). No Novo
Testamento, esse conceito é reforçado quando o Senhor Jesus nos diz: “Se me
amardes, guardareis os meus mandamentos”
(Jo 14.15). João, o apóstolo amado, diz: “Aquele que não ama não conhece a
Deus, porque Deus é caridade” (1 Jo 4.8). Nestes e outros versículos
encontramos uma relação de amor e obediência dando-nos a entender que “obedecer”
ao Senhor ou “ouvir as Suas Palavras” é uma prova de quem verdadeiramente O ama
(Jo 14.21,24; 1 Jo 5.3).
O amor do homem para com os
seus semelhantes e algo respaldado na lei mosaica (Lv 19.18), confirmado pelo
sábio rei Salomão (Pv 25.21,22), e, principelmante, pelo Senhor Jesus (Mt
5.44-46). Sendo o amor a base do Cristianismo, quem não o pratica ainda está
preso à falsa religiosidade, qual árvore sem fruto, odres sem vinho (Mt 9.17),
etc. Não era do agrado do Senhor que Seu povo Israel se misturasse com as
nações gentílicas, por outro lado, não deveriam oprimir o estrangeiro que
viesse morar no meio deles (Êx 23.9) isso parece mostrar o propósito de Deus em
que as nações seguissem o exemplo de Israel e nunca o contrário como
infelizmente acxonteceu. Amar o próximo aparece na Lei de Moisés no sentido de
não prestar falso testemunho contra ele (Êx 20.16), não agir de maneira ousada
contra ele (Êx 21.14) e, junto com ele, prestar culto a Deus (Êx 12.4) dentre
outras coisas que dizem respeito a “amar o próximo”. O salmista reconheceu a
importância de amar o seu semelhante através de um tratamento ético e justo (Sl
15.1-3). Os apóstolos no Novo Concerto não deixaram de lado este santo preceito
(Rm 12.9,10,14,15,17,20,21; 1 Pe 4.8; 1 Jo 2.9-11; 3.14-18).
A doutrina bíblica do amor deve ser resgatada no púlpito das Igrejas e reacender no coração dos que professam a fé no Senhor. Oremos a Deus para que o Seu amor seja como fogo inextinguível dentro de nós; sem amor, não há proveito algum em agradar a Deus e tudo não passará de uma crença rotineira e tediosa.
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