Referência-chave: "No seu pescoço pousa a força; perante ele, até a tristeza salta de prazer" (Jó 41.22)
É bem recorrente ouvir pessoas afirmarem que na Bíblia está escrito que "na presença de Deus até a tristeza salta de alegria". Quem nunca ouviu isso que atire a primeira pedra. Embora boa parte de quem afirma isso não faça a mínima ideia do versículo que supostamente diga isso, mesmo assim afirmam com veemência.
É verdade que na presença de Deus a tristeza salta de alegria? Sim, é verdade! Na presença de Deus todas as coisas são possíveis, principalmente as mais improváveis aos olhos humanos. Está escrito dessa forma na Bíblia? Não! Não há erro nenhum em usar a frase que, em si mesma, contém uma verdade, porém, afirmar que está escrito na Bíblia já se constitui um equívoco.
É mais sensato, em termos de fidelidade bíblica, usar a passagem de Salmos 16.11: "... na tua presença há abundância de alegria...". A fidelidade bíblica é de suma importância para o cristão fiel, inclusive para os pregadores e ensinadores da Palavra de Deus.
Levando em conta, a passagem bíblica de Jó, o que o texto quer dizer? Primeiro, quem está falando? Segundo, com quem está falando? Terceiro, sobre o quê está falando? Quarto, em que sentido está falando? Responderemos analisando o texto e o contexto.
Primeiro, quem está falando é o Senhor Deus! Com quem Deus está falando? Com Jó! Sobre o que Deus está falando? Sobre o Leviatã. Em que sentido, Deus está falando? É isso que vamos analisar agora.
O Leviatã é um animal lendário. Alguns estudiosos debatem entre si sobre a identidade dele. Para uns, o Leviatã era um dragão; para outros, um crocodilo; para outros, um dinossauro. As discussões não se esgotam. Entretanto, boa parte dos estudiosos (entre os quais estou incluído) acredita que se trata de um monstro marinho, lendário, ou seja, criado no imaginário humano, nas antigas civilizações, um monstro que habitava na profundeza dos mares.
As descrições acerca do Leviatã são fascinantes. Vamos lá:
1) Um animal que não pode ser domado (Jó 41.1-2, 7, 10, 13);
2) Possui fortes escamas (Jó 41.7, 15-17; 26);
3) Terrivelmente corpulento (Jó 41.23);
4) Possuidor de grande força (Jó 41.27-29);
5) Faz sua morada nos mares e deles se assenhoreia (Jó 41.31);
6) Sua presença é aterrorizante (Jó 41.22, 33).
Em resumo, algumas lições se destacam aqui:
a) Os homens não podem domá-lo;
b) Sua presença causa terror até no mais corajoso dos homens.
c) Os homens desfalecem ao tentar capturá-lo, pois, nem mesmo a espada o detém.
Aqui está sentido do que Deus estava querendo dizer a Jó: se os homens não podem contra o Leviatã, como poderão contra Deus?
Diante do Leviatã, a coragem do homem mais corajoso se reduzia a nada. Do mesmo modo, diante de Deus, nossas razões, nossas queixas também se reduzem a nada. Isso era uma mensagem a Jó que estava se queixando com Deus, exigindo dEle uma explicação para a Sua dor. Quando confrontado com a Soberania divina, todas as queixas de Jó se desfazem, conforme vemos no capítulo 42.1-6.
E, quanto à frase: "perante ele, até a tristeza salta de prazer"? A tradução mais apropriada, seguindo a rigorosidade do texto, é:
"diante dele vai o terror" (encontrado em algumas versões)
A frase remete à presença aterrorizante do Leviatã, a qual, vendo os homens, ficavam tomados de grande pavor. A frase é poética, afirmando que o terror rir dos homens, dança perante eles, ao ver que sua coragem e bravura desaparecem ao encararem o poderoso monstro.
Como não será diante do grande Deus? Quando pensamos que nossas razões podem ser suficientes para exigir de Deus o que queremos que Ele faça ou responda, Ele vem com Seu toque de soberania, mostrando que somos pó e cinza.
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