domingo, 28 de setembro de 2025

ATÉ A TRISTEZA SALTA DE PRAZER

Referência-chave: "No seu pescoço pousa a força; perante ele, até a tristeza salta de prazer" (Jó 41.22)


É bem recorrente ouvir pessoas afirmarem que na Bíblia está escrito que "na presença de Deus até a tristeza salta de alegria". Quem nunca ouviu isso que atire a primeira pedra. Embora boa parte de quem afirma isso não faça a mínima ideia do versículo que supostamente diga isso, mesmo assim afirmam com veemência. 


É verdade que na presença de Deus a tristeza salta de alegria? Sim, é verdade! Na presença de Deus todas as coisas são possíveis, principalmente as mais improváveis aos olhos humanos. Está escrito dessa forma na Bíblia? Não! Não há erro nenhum em usar a frase que, em si mesma, contém uma verdade, porém, afirmar que está escrito na Bíblia já se constitui um equívoco. 


É mais sensato, em termos de fidelidade bíblica, usar a passagem de Salmos 16.11: "... na tua presença há abundância de alegria...". A fidelidade bíblica é de suma importância para o cristão fiel, inclusive para os pregadores e ensinadores da Palavra de Deus. 


Levando em conta, a passagem bíblica de Jó, o que o texto quer dizer? Primeiro, quem está falando? Segundo, com quem está falando? Terceiro, sobre o quê está falando? Quarto, em que sentido está falando? Responderemos analisando o texto e o contexto. 


Primeiro, quem está falando é o Senhor Deus! Com quem Deus está falando? Com Jó! Sobre o que Deus está falando? Sobre o Leviatã. Em que sentido, Deus está falando? É isso que vamos analisar agora. 


O Leviatã é um animal lendário. Alguns estudiosos debatem entre si sobre a identidade dele. Para uns, o Leviatã era um dragão; para outros, um crocodilo; para outros, um dinossauro. As discussões não se esgotam. Entretanto, boa parte dos estudiosos (entre os quais estou incluído) acredita que se trata de um monstro marinho, lendário, ou seja, criado no imaginário humano, nas antigas civilizações, um monstro que habitava na profundeza dos mares.


As descrições acerca do Leviatã são fascinantes. Vamos lá:


1) Um animal que não pode ser domado (Jó 41.1-2, 7, 10, 13);


2) Possui fortes escamas (Jó 41.7, 15-17; 26);


3) Terrivelmente corpulento (Jó 41.23);


4) Possuidor de grande força (Jó 41.27-29);


5) Faz sua morada nos mares e deles se assenhoreia (Jó 41.31);


6) Sua presença é aterrorizante (Jó 41.22, 33).


Em resumo, algumas lições se destacam aqui:


a) Os homens não podem domá-lo;


b) Sua presença causa terror até no mais corajoso dos homens. 


c) Os homens desfalecem ao tentar capturá-lo, pois, nem mesmo a espada o detém. 


Aqui está sentido do que Deus estava querendo dizer a Jó: se os homens não podem contra o Leviatã, como poderão contra Deus? 


Diante do Leviatã, a coragem do homem mais corajoso se reduzia a nada. Do mesmo modo, diante de Deus, nossas razões, nossas queixas também se reduzem a nada. Isso era uma mensagem a Jó que estava se queixando com Deus, exigindo dEle uma explicação para a Sua dor. Quando confrontado com a Soberania divina, todas as queixas de Jó se desfazem, conforme vemos no capítulo 42.1-6. 


E, quanto à frase: "perante ele, até a tristeza salta de prazer"? A tradução mais apropriada, seguindo a rigorosidade do texto, é:


"diante dele vai o terror" (encontrado em algumas versões)


A frase remete à presença aterrorizante do Leviatã, a qual, vendo os homens, ficavam tomados de grande pavor. A frase é poética, afirmando que o terror rir dos homens, dança perante eles, ao ver que sua coragem e bravura desaparecem ao encararem o poderoso monstro. 


Como não será diante do grande Deus? Quando pensamos que nossas razões podem ser suficientes para exigir de Deus o que queremos que Ele faça ou responda, Ele vem com Seu toque de soberania, mostrando que somos pó e cinza.

quinta-feira, 25 de setembro de 2025

DEUS DE DETALHES

 Referência-chave: "Nunca se envelheceu a tua veste sobre ti, nem se inchou o teu pé nestes quarenta anos" (Deuteronômio 8.4)


Quanto tempo um vestido dura no nosso corpo? E o sapato em nossos pés? Não há uma única resposta. As coisas tendem a se desgastar, perder a qualidade ou simplesmente cair em desuso pela qualidade, pelo tempo ou por outros fatores. O tempo vai passando e a roupa que cabe em nós hoje pode não servir mais amanhã. O mesmo vale para os sapatos. E assim vai.


Você já imaginou um povo peregrinar 40 anos e a roupa não de desgastar e o sapato não se desbotar? Logicamente, isso é impossível. Uma mesma roupa e um mesmo calçado durante 40 anos? Como isso? Só há uma resposta: o cuidado providencial de Deus, que cuida do seu povo nos mínimos detalhes. 


Porém, quero chamar a atenção para a apódose do texto: "... nem se inchou o teu pé nestes quarenta anos". Se o sapato se desgastasse, ficando em desuso, o povo sentiria seus pés tocarem na areia. Imagine andar descalço, com os pés em contato com a areia, castigada pelo calor? Mas, Deus não deixou que isso acontecesse. Qual o motivo? Vamos analisar agora.


A areia é uma poderosa fonte de silício. Por isso, tecnicamente chama-se a areia de "areia de sílica", por causa da expressiva quantidade desse elemento na areia. O silício é o segundo elemento mais abundante da Terra, perdendo apenas para o oxigênio. Bem presente no dia-a-dia, como no vidro, no silicone, nos eletrônicos, nos LED's, nas placas solares, em cosméticos, etc.


O silício tem uma dupla particularidade: a) o aquecimento quando submetido a uma radiação; b) a emissão de elétrons quando submetido ao calor. Imagine a areia, contendo dióxido de Silício (SiO²), recebendo grande incidência dos raios solares (o Sol é uma poderosa fonte de raios ultravioleta) e com isso aquecendo intensamente? Quem já viajou de férias, andando descalço na areia da praia em plena luz do sol, sabe a experiência de sentir a areia quente. 


Já imaginou isso no deserto por quarenta anos?


Quarenta anos no deserto, tocando os pés descalços na areia sob a luz do Sol, sem calçado para proteger os pés. Isso levaria ao inchaço dos pés, impedindo-os de seguirem sua trajetória. A areia de sílica reagiria ao sol, aquecendo, provocando inchaço nos pés. Mas Deus, que cuida do Seu povo nos mínimos detalhes, não deixou que isso acontecesse. "Nem se inchou o teu pé nestes quarenta anos". Deus cuida do Seu povo como ninguém! O cuidado providencial de Deus para conosco é maravilhoso! E digo mais: nos mínimos detalhes!


Nosso Deus é um Deus de detalhes!


Em Cristo,

Ev Clenio Daniel

terça-feira, 9 de setembro de 2025

O PREGADOR E AS ANOTAÇÕES

"Abre bem a tua boca e ta encherei" (Salmos 81.10b)


Quem vê um pregador ministrando a Palavra no púlpito, pregando de forma ordeira, com sabedoria e poder do Alto, muitas vezes não imagina o cuidado que ele teve no seu secreto em preparar o seu sermão. Infelizmente, esse assunto ainda é controverso entre muitos dentro da Comunidade Evangélica em geral. Dois extremos são vistos com relação a isso: 


Primeiro, os que mostram preconceito com o pregador que faz anotações do esboço que vai pregar. Para este grupo, não precisa estudar, é somente orar que Deus dá a mensagem pronta e está tudo bem. Para os mesmos, pregador que faz uso das anotações é inseguro na mensagem, sem direção e, consequentemente, é frio e apático. 


Segundo, os que vivem em função dos esboços anotados como se eles fossem o suficiente no ato da pregação. Vamos lá, quem tem preconceito com pregador que faz uso de esboços defende que o tal tem que ser "ungido", "fervoroso" e "cheio de poder". Quem se apoia exageradamente nos esboços defende que tem que haver preparo e embasamento bíblico necessário. Que tal deixar os atritos e unir o melhor destes extremos: a espiritualidade e a técnica da preparação do sermão?


Mas, aí vem outro problema: os que acreditam que a técnica "retira a espiritualidade e o fervor do pregador". Será? É certo que não. É perfeitamente possível unir a técnica, a erudição, o conhecimento ao fervor espiritual e viver na dependência do Espírito Santo. Uma coisa não atrapalha a outra. 


Deve-se, sim, o pregador ter preparo, estudar, buscar aparatos bíblicos, teológicos, históricos para dar suporte ao seu sermão. É evidente que tal cuidado NUNCA o impedirá de orar, buscar a Deus e viver na intimidade com o Espírito Santo. Mais do que palavras, um sermão bem preparado, regado na oração e na sensibilidade do Espírito, produzirá vida e grande edificação na vida de seus ouvintes. 


Há quem se baseie no versículo bíblico citado acima: "Abre bem a tua boca, e ta encherei". Dois erros que os que se dizem "espirituais" cometem aqui: 1) usar a própria Bíblia como desculpa para não elaborar um sermão com responsabilidade; 2) isolar um texto de seu contexto principal sem entender o devido significado. A passagem bíblica em apreço, quando lida em conjunto com o restante do Salmo, fala de provisão, do cuidado divino em abençoar o Seu povo, caso este obedecesse ao Senhor. Nada mais que isso.


Pregador, estude e ore! Ore e estude! Anote, escreva, faça seus rascunhos, mas nunca dependa inteiramente disso! Do quarto ao púlpito, é Deus e o pregador. Do púlpito ao ouvido, é Deus e o ouvinte! 


Em Cristo,

Ev Clenio Daniel