É indiscutivelmente bíblico quando pensamos que, nas horas adversas, Deus sempre Se manifesta como alguém poderoso para nos ajudar seja qual for a situação que passarmos. Ao revés, também é incontestável quando nossos pensamentos são turbados ao nos contemplarmos diante das intempéries da vida, fazendo-nos, muitas das vezes, acreditar que a Presença Consoladora do Todo-Poderoso não esteja mais conosco. Todavia, sabemos que não é assim. Somos exortados, através das Escrituras, a conservar o ânimo mesmo em tempos de aflição ( Jo 16.33), na certeza de que venceremos, porque, um dia, alguém venceu antes de nós.
É maravilhoso lermos o Evangelho que escreveu João; é de se observar, mui especificamente no capítulo 2, o milagre da água feita vinho, uma grande verdade que o Senhor transmite a nós, Seus servos. Foi celebrado um casamento, para o qual, Jesus foi convidado junto com seus discípulos; percebendo que algo de tão precioso faltava na festa, Maria, possívelmente querendo mostrar seu orgulho de ser mãe do Salvador, expôs-Lhe a situação: “Não tem vinho” (Jo 2.3), ao que lhe respondeu o Senhor: “Mulher, que tenho eu contigo?...” (Jo 2.4). O vinho era algo essencial naquela festa, visto que, na Bíblia, o vinho é apresentado como símbolo da alegria (Ec 10.19); logo, que significado teria aquela festa sem algo de extrema importância para eles? Aqui, lemos o Divino Mestre diante de uma circunstância. Paulo exalta a bendita Pessoa de Cristo como a “imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação” (Cl 1.15), sim, aquEle que “é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por Ele” (Cl 1.17). Esse mesmo Cristo, a Quem o apóstolo Paulo O personifica dessa forma, é quem conhece as dores da alma, quando feridas são geradas pelas aflições da vida. Passamos por reveses a ponto de sufocar nossos objetivos, calar a voz da nossa convicção, e minguar a nossa fé em Jesus Cristo; e pensamos que Ele não está nos vendo, mas, a Palavra de Deus nos assegura que não é exatamente assim. O vinho da alegria está faltando em nossa vida para nos fazer recuperar o sorriso outra vez, porém, tudo está diante dEle, tudo Ele vê, tudo Ele sabe, tudo se sucede perante Seus olhos (Pv 15.3; Hb 4.13), e é conhecedor da angústia que assola o nosso coração.
Uma outra passagem bíblica muito marcante em João é o capítulo 6; entrando os discípulos no barco para ir em direção a Cafarnaum, assoprava um grande vento, causando nos discípulos grande temor. Então, viram que Jesus estava andando sobre o mar para ir ao encontro dos Seus primeiros seguidores, O evangelista não diz que Jesus repreendeu o mar, mas dá-nos a entender que pelo meio do mar Ele estava andando. Vemos aqui o Senhor dos senhores passando pelo meio da circunstância. Nos terríveis mares das incertezas, pelos quais, nosso barco está sujeito a quebrar, não é diferente. Às vezes Deus não nos isenta de grandes provações, contudo, nos dá graça para triunfarmos sobre as mesmas. Ele nunca nos deixa só, pelo contrário, podemos contemplá-Lo pela fé no meio de nossas vicissitudes, de nossos devaneios, vindo ao nosso encontro para nos dá a certeza da Sua presença.
O mais marcante de tudo é exatamente a crucificação do Salvador; por que não dizer desde o momento em que, agonizantemente, orava no Getsêmani até as horas cruciantes pendurado no madeiro contemplando a extrema incredulidade de seus conterrâneos segundo a carne. São notórias as palavras do apóstolo amado: “Deus amou o mundo...” (Jo 3.16), e por Ele amar o mundo confiou a Seu Filho amado a árdua missão de viver em Si o glorioso e inefável plano da redenção. Nas ruas de Jerusalém estar um homem a andar. Algo mui pesado levando em suas costas (Jo 19.17), sim, a cruz. Mas, somente a cruz? Não carregava sobre Si algo mais além? Sim, as nossas iniqüidades, as nossas dores, “o castigo que nos traz a paz” (Is 53.3-7). Mais pesado que a cruz: nossos pecados! Mais agonizante que as dores dos cravos e dos espinhos: a dor de ser menosprezado! Mais inesperado que as horríveis torturas de seus algozes: a traição de um dentre seus amigos! Quem passaria por isto? Aqui, o Senhor Jesus não viu a circunstância, nem passou pelo meio dela; pelo contrário, Ele viveu esse sofrimento, Ele sentiu em sua alma; e para vergonha do adversário de nossas almas e alegria da nossa salvação triunfou sobre tudo isto libertando-nos da condenação eterna, para a qual, estávamos destinados.
Em momentos que passamos por um profundo vale, atravessamos um grande deserto e enfrentamos revoltosas tempestades da vida, a solidão é qual um manto grosso que tenta nos envolver. Nossos amigos só podem nos aconselhar, nos encorajar com belas palavras de estímulo, porém, não passam pelos problemas que nós passamos. Incompreensão parece preencher as lacunas vazias de nossas vidas. Mas, Jesus passou pelo que passamos, sentiu o que, às vezes, sentimos e, por isso, Se apresenta como o Verdadeiro, Incomparável e Único Amigo que pode nos ajudar em tudo e manifestar a Sua destra consoladora e fortalecedora sobre nós.
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