quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Não se turbe o vosso coração - João 14.1

Era a reta final do Ministério terreno do Senhor Jesus. Às vésperas de Sua crucificação, o Divino Mestre, ao Se reunir com Seus discípulos, dirigiu aos mesmos palavras de consolo, mostrando ser Ele o Bom Pastor que refrigera as nossas almas (Sl 23.1,3). Era quase o fim de uma Dispensação. Todos os dias nasce o sol, perfazendo seu circuito até chegar no seu ocaso. Porém, mediante a morte e ressurreição do nosso Salvador, nasceria mais do que um dia, afinal, Ele é o “Sol da Justiça” (Ml 4.2), que viria no Seu resplendor para dissipar o pecado e nos regenerar à condição de filhos de Deus. A Sua vereda foi como “a luz da aurora” que foi “brilhando mais e mais até ser dia perfeito” (Pv 4.18). Glória a Deus!  
O que pode turbar um coração? Circunstâncias adversas da vida contribuem para nos deixar com o coração turbado e dilacerado. Afinal, turbar significa “perturbar”, “toldar ou entristecer” e até “escurecer”. O sentido do termo indica uma situação desfavorável, desconfortante, causando-nos aperto. Devido o amontoar das situações que são degradantes, vão “escurecendo” as esperanças, impedindo-nos de vislumbrar os horizontes da vida. Logo mais adiante o Mestre seria preso e entregue à vontade de Seu próprio povo (Lc 23.25). Porém, Sua missão não encerraria com a morte, pelo contrário, na Sua morte também “morreria” a velha dispensação, os fracos rudimentos da Lei mosaica e, em Cristo, seria inaugurado “um melhor concerto, que está confirmado em melhores promessas” (Hb 8.6). As razões para não deixar que o nosso coração se turbe não se restringe à horizontalidade da vida e sim à verticalidade dos valores eternos, pois, estes vão além da transitoriedade e da temporalidade.
De acordo com os grandes intérpretes da Bíblia o termo “turbe”, no original grego, significa “incitar”, “agitar”, com a ideia de turvar a água. Ao lermos “não se turbe”, podemos exaurir do versículo algumas lições:
1.     Está no presente do imperativo, indicando uma ordem, expressando uma ação continuada. Desse modo,  a ordem expressa aqui é que o cristão deve sempre estar com o seu coração blindado na fé em Deus a fim de que as dificuldades da vida não o incite à incredulidade nos propósitos do Senhor para conosco;
2.     A negativa “não se turbe” implica a proibição de uma ação, mormente quando ela está ocorrendo. Os discípulos estavam com os seus corações turbados, mas, não havia razão para tal. O nosso coração pode estar turbado por alguma coisa, mas, segundo a Escritura, não há razão para nos conformar a isso, pois, Jesus disse: “credes em Deus, crede também em mim”;
3.     Um coração turbado é um coração agitado. Por agitado entende-se tudo aquilo que oscila conforme uma situação. Com isso, Jesus aqui nos ensina que, quem realmente crê no Senhor não oscila, não varia segundo o ritmo das adversidades e das aflições (Sl 125.1). Devemos andar e viver pela fé (Hc 2.4; 2 Co 5.7), pareada, alinhada à vontade de Deus revelada na Sua Palavra e nas Suas indizíveis promessas que Ele nos fez.
Qual a razão para não turbarmos o nosso coração? A resposta nos é dada pelo Senhor Jesus: “Na casa de meu Pai há muitas moradas” (Jo 14.2); onde fica a casa do Pai, no sentido em que Jesus aqui se referiu? Não é na terra, aonde tudo é transitório, é efêmero; não é aqui, aonde tudo proporciona prazeres momentâneos. Na referência em apreço, Jesus nos convida a vislumbrar os horizontes da eternidade, aonde o tempo não entra e não põe limite em nada. Nesta terra, as aflições nos sobreveem e, como chuva de verão, logo passam; mas, na casa do nosso Pai é gozo eterno, é vida eterna, é alegria eterna, é glória eterna, pois, quem nos assegura estas coisas é o “Pai da Eternidade” (Is 9.6).

Quando observamos a vida do ponto de vista da eternidade, tendo como âncora a Palavra de Deus, percebemos o quanto vale a pena prosseguir sem nunca titubear, visto que “por muitas tribulações nos importa entrar no Reino de Deus” (At 14.22; ver Rm 8.18).

sábado, 1 de outubro de 2016

O que significam as palavras "não sofrerão a sã doutrina" em 2 Timóteo 4.3?

Para começar, o que é doutrina? Por este termo, definimos como “instrução”, “ensino”, “conjunto de princípios que rege uma filosofia ou religião”. Em nosso caso, doutrina é um “conjunto de ensinamentos que, tendo como base as Sagradas Escrituras, orientam o homem a um relacionamento com Deus por meio de uma vida santificada”. Estudiosos da Bíblia identificam três tipos de doutrinas, a saber: a doutrina de Deus – a doutrina bíblica; a doutrina de homens – a doutrina extrabíblica; e, por fim, a doutrina de demônios – a antibíblica. A doutrina de Deus é salutar, pois, seus ensinos constitui-se o norte da vida cristã; por ela, o homem, uma vez redimido, ajusta a sua vida à vontade do Deus Criador de todas as coisas.
Qual é a tarefa da doutrina bíblica? Instruir o cristão a fim de que este possua uma vida alicerçada nos fundamentos da Verdade, para não cair no erro, não tropeçar no engano, tampouco titubear ante os falsos ensinos que se propalam em muitas comunidades de fé (ver 1 Pe 3.15). Pela palavra “sã” entendemos como tudo aquilo que é puro, sadio. Isso significa que a Sã Doutrina tem como finalidade precípua levar o cristão a uma vida pura, sadia em caráter espiritual, moral e até mesmo social, reluzindo neste mundo que jaz em trevas (Fp 2.15; ver 1 Tm 1.9,10; 6.3; 2 Tm 4.3; Tt 2.1). Com isso, já entendemos que a “doutrina de demônios” (1 Tm 4.1) é perigosa, destrutiva e, portanto, nociva àqueles que prezam por uma vida piedosa, arraigada no Evangelho genuíno. Devemos amar a Palavra de Deus (Sl 119.97) e estarmos apercebidos dos falsos ensinadores que, eloquentemente, vem ludibriando a muitos, com suas falsas premissas, com aparência da verdade, mas, sem a essência dela.
O Espírito Santo inspirou os sacros escritores do Novo Testamento a escreverem sobre a apostasia que viria fazendo uma “varredura”, digamos, no seio da Igreja Cristã (1 Tm 4.1-3; 2 Tm 3.1-9; 4.1-4; Tt 1.10-16; 2 Pe 2.1-3; 1 Jo 2.18,19; 4.1; Jd vv 4-19). Isso já está acontecendo. A tolerância ao pecado, a síndrome do “não tem nada a ver” tem ofuscado a visão espiritual de muitos que se acomodaram em uma vida cristã superficial  e meramente relativa. O que estamos vendo é uma mistura de valores bíblicos com “valores” mundanos, tendo com isso um cristianismo híbrido, o que é contrário às Escrituras que nos exortam a uma vida santa, ou seja, separada do mundo e separada para Deus (Rm 6.4,19; 2 Co 7.1; Tg 4.4; 1 Pe 1.15). O “hibridismo cristão” está ganhando espaço em toda parte e quando isso acontece, já não se fala mais em uma vida totalmente consagrada a Deus e ao que ensina a Sua Palavra.
É por essa e muitas outras razões que o apóstolo Paulo alerta o jovem pastor Timóteo dizendo que viria “tempo em que não sofrerão a sã doutrina” (2 Tm 4.3). Como assim “não sofrerão a sã doutrina”? Qual o contrário de “não sofrer”? É resistir. É não reagir de forma correspondente e positiva a uma ação. É isso o que vemos em nossos dias. A doutrina bíblica genuína está sendo desprezada, pois, muitos preferem suas paixões carnais e repugnam a verdade quando esta vem aos seus ouvidos. Mensagens como Salvação, Renúncia de pecado, Santificação, O poder do sangue de Jesus, O Arrebatamento da Igreja e outras mais não interessam mais à Igreja. Agora é tudo moderno, querem ouvir algo mais light. A doutrina do Senhor Jesus é poderosa para nos conduzir à prática da justiça e dos bons costumes, porém, muitos estão resistindo-a, combatendo-a através da sua inclinação às obras da carne, e, como diz a Sagrada Escritura, “os que estão na carne não podem agradar a Deus” (Rm 8.8). Nos últimos tempos, muitos “não sofrerão a sã doutrina” pelo fato de preferirem agradar mais a si mesmos do que a Deus.
Outrossim, o que significa a frase “não sofrerão a sã doutrina”? o que é sofrer? É ser atingido por algo que pode causar dores ou outra reação. É ser vítima de um duro golpe. É passar por uma situação desagradável ou indesejável. Também, é sofrer um impacto profundo. O apóstolo Paulo, pelo Espírito Santo, prevendo que muitos não sofreriam a sã doutrina, estava dizendo que muitos não aceitariam serem atingidos pela Palavra de Deus, “viva, e eficaz” (Hb 4.12); visto com o a doutrina do Senhor não só reprova como nos afasta do erro, quando a obedecemos, significa que muitos preferiria permanecer no erro do que renunciá-los para viver conforme a vontade de Deus revelada na Sua Palavra. “Sofrer a sã doutrina” é renunciar aquilo que entra em conflito com a Verdade absoluta de Deus, é deixar ela causar um profundo impacto de mudança, santificação e aproximação de Deus. Como já falamos, doutrina é um conjunto de ensinos, de regras, de princípios basilares que norteiam a conduta de um cristão. “Sofrer a sã doutrina” é aceitar a totalidade dos seus ensinos, reconhecendo que somente um coração puro irá nos aproximar da presença de Deus. Ainda, “sofrer a sã doutrina” é contrariar nossas concepções loucas, nossas ideias fúteis, tipo “eu acho”, “eu sei”, “eu penso”, deixando a doutrina do nosso Deus predominar o nosso coração.

Os bons usos e costumes sempre terão sua devida importância na história da Igreja desde que conservados à luz da Sã Doutrina. Do contrário, tudo não passará de fanatismo e radicalismo, mexericos e contendas, pois, tudo vai girar em torno da roupa, do cabelo, da maquiagem, etc, e não em torno da Palavra de Deus. O cristão deve “sofrer a sã doutrina”, ou seja, deixar que seu coração seja flagelado pelo duro golpe da verdade, flamante contra o pecado, moldando o nosso perfil para que vivamos em plena consonância com a vontade daquEle que nos chamou das trevas para Sua maravilhosa luz (1 Pe 2.9).