E vos darei pastores segundo o meu coração, que vos apascentem com ciência e com inteligência
Jeremias 3.15
Muitas outras referências bíblicas poderiam ser usadas para reforçarem o tema acima. Entretanto, a passagem bíblica estipulada também pode aclarar a realidade do espírito imperialista, em contraste com uma vida resignada, em consonância com a vontade de Deus. O objetivo maior, aqui, é nos conscientizarmos desta triste realidade, sabedores de que nada e nem ninguém pode abalar a nossa fé no Senhor, pelo contrário, sempre avançando na direção divina, batalhando pela fé "uma vez entregue aos santos" (Jd 3).
Tendo em vista a soberba dos que se dizem grandes, agigantando-se sobre os que procedem piedosa e humildemente, a forma desapaixonada de testemunharem do Evangelho, por eles não vivido, muitos são os que se assombram ao verem esta deplorável realidade que ganha espaço de forma prevalecedora no seio da Igreja. A engrenagem do fervor espiritual fica emperrada pelo desânimo advindo da contemplação destes dissabores ocorrentes em nossa trajetória. Onde está a verdadeira visão de Reino? Onde está o compromisso com o simples, mas, poderoso Evangelho de Jesus Cristo? Tudo não passa de um profissionalismo liberal, egocêntrico, exacerbado, árvore que produz o fruto da decepção, experimentado por muitos cristãos professos, guardiões da doutrina bíblica, e que no temor do Senhor prosseguem corajosamente sem pensarem em voltar atrás. É a verdadeira Igreja firmada na Rocha, contemplando assustadamente os falíveis métodos dos muitos líderes eclesiásticos, fundamentados na areia.
A Escritura Sagrada apresenta a Igreja como propriedade divina (Mt 16.18; 1 Tm 3.15; 1Pe 2.9). Foi Cristo quem se entregou por ela (Ef 5.25). Ele é o fundamento indestrutível e insubstituível da Igreja (1 Co 3.11), o Pastor e Bispo das nossas almas (1 Pe 2.25). É lamentável como estas e outras verdades ficaram entregues ao esquecimento de muitos que apascentam o rebanho do Senhor Jesus. Logo, o que procuram é o auto-engrandecimento, a utilização de seus próprios artifícios, desprovidos da graça do Espírito Santo e com isso, caminham na contramão daquEle que disse: "E vos darei pastores segundo o meu coração..." (Jr 3.15). E enquanto as ovelhas pedem pão, os tais pastores lançam-lhe pedras (Mt 7.9). Ora, o pão satisfaz o organismo, a pedra machuca e "entala" a garganta. Quando a Igreja deseja o pão da sabedoria divina, muitas vezes recebe, imerecidamente, "pedras" que lhe sufocam a alma, chocando-se com o desamor estampado na fisionomia e atitudes de muitos líderes de Ministério.
Mas por que fazem isso? Porque fizeram da Igreja um IMPÉRIO e do santo altar do Senhor um trono onde acha que pode monopolizar o povo, usando de um autoritarismo inconveniente! Quem são estes? São pastores imperialistas, os quais, por meio de seu modo impiedoso, consideram-se "donos" da Igreja, julgando serem irremovíveis de suas funções ministeriais. O espírito imperialista tem ganhado corpo e espaço de atuação na história do povo de Deus, como veremos:
1) O imperialismo representado no ato inescrupuloso de Moisés (Nm 20.7-11) - A ordem do Senhor Deus era falar a Rocha (Nm 20.8), porém, Moisés feriu, transgredindo, assim, a palavra do Eterno (Nm 20.11,12). O povo deveria estar em volta da Rocha, símbolo de Cristo (1 Co 10.4), Moisés, porém, reclamou atenção para si, como se dele partisse o intento de dar água ao povo. O espírito imperialista evoca atenção para si próprio, ferindo a vontade daquEle que disse: "... a minha glória, pois, a outrem não darei..." (Is 42.8). Verdade é que a chamada pastoral é honrosa, pois o Senhor mesmo nomeou uns para pastores (Ef 4.11), no entanto, Jesus Cristo é o "Grande Pastor", "O Sumo Pastor" (Hb 13.20; 1 Pe 5.4), mediante cuja vontade devemos apascentar as Suas ovelhas. Outrossim, o espírito imperialista desrespeita a ordem expressa do Senhor, "ferindo", "atacando", ao invés de falar na autoridade outorgada pelo Espírito de Deus.
2) O imperialismo representado no soberbo coração do rei Uzias (2 Cr 26.16) - O reino fortificado e consolidado de Judá, levou Uzias a exaltar-se em seu coração "até se corromper". A história é a mesma em nossos dias. Igreja bastante acrescida de membros, na sua maioria, assíduos nos cultos, dizimistas e ofertantes fiéis, renda financeira equilibradamente elevada todos os meses, estrutura arquitetônica do templo dotada de singular beleza, estes e outros fatores tem se tornado motivo da exaltação de muitos pastores que atribuem isso a sua própria capacidade e genialidade, esquecendo-se da potente mão do Senhor que opera graciosamente. Não é erro nenhum alegrar-se com aquilo que realizamos na obra do Senhor, porém, sempre devemos reconhecer que isso é resultado da bondade de Deus! Ele constitui e destitui a quem Ele quiser (Jó 12.9,14; Dn 2.21b).
3) O imperialismo representado no pernicioso coração do rei Herodes (Mt 2.1-3,13) - Herodes perturbou-se grandemente ao ser informado que já nascido o "Rei dos Judeus" (Mt 2.2), porque, possivelmente, temia que o menino, quando já adulto, ocupasse o trono. O imperialismo fez com que muitos líderes se considerassem "exclusivos" no cargo pastoral, procurando obstruir o sucesso de outros, vistos como rivais em vez de serem vistos como companheiros na Seara do Metre. Se acham "eternos" no ministério, nunca aceitando a competência de outrem num determinado ofício. Não somos únicos, exclusivos e nem eternos, somos todos pedras vivas (1 Pe 2.5), as quais, em conjunto, formamos o edifício vivo chamado IGREJA, da qual Jesus Cristo é a pedra principal. Aleluia!
Deus não Se agrada de imperialismos ou monopolismo, onde tudo gira em torno do homem e não da Presença Divina. O que agrada ao Eterno de Israel é o compromisso de homens e mulheres que se empenham na Sua obra sem reservas e com esforço desmedido, enfim, homens e mulheres segundo o Seu coração, que reconheçam que Deus é o centro de tudo e o Senhor da Igreja.
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