No relento da solidão
Conturbado eu estava;
Ó ferido coração
Que dia e noite não cessava
De chorar sem precisão
E em vão lacrimejava.
Foi debalde o que fiz:
Sair da casa paternal;
Pois fazer o que sempre quiz
Foi meu verdadeiro mal.
No meu mundo eu vivia,
Mas meu pai sempre a chorar;
Pois aguardava ele, um dia,
Que eu retornasse para o Lar.
O meu dinheiro esbanjei,
Novos amigos conheci;
Paixões mui loucas desfrutei
Bons momentos eu vivi.
Tão incauto era eu
Nas atitudes e no pensar.
Foram devaneios meus
Que à amargura deu lugar.
Não há silêncio dentro em mim,
Meus pensamentos se afloram;
Acusações que não tem fim,
No consciente, me apavoram.
Levantar-me-ei daqui,
Ao velho lar retornarei;
A quem eu tanto entristeci,
O seu perdão eu rogarei.
"Meu pai, meu pai aqui estou!
Quão grande foi o meu pecado!
Estou marcado em grande dor,
Angústias mil tem me cercado!"
"O que posso eu fazer
Pra merecer tua compaixão?
Quero alcançar tua mercê,
O teu amor eu obter
E receber consolação!"
"Meu pai, meu pai aqui estou!
Pois aprendi que a ilusão
É violenta, é traiçoeira,
Gera em muitos a cegueira
E induz os tais a transgressão."
"Pai, perdoa-me, te peço,
Vida nova eu quero ter;
Em meio as lágrimas, confesso,
Neste dia de regresso:
Não quero mais lhe entristecer."
(Declamação do Pai)
"Filho meu, como eu te amo!
E a ti concedo o meu perdão!
Mesmo longe a vaguear,
Estrada a fora a caminhar,
Contigo foi meu coração!"
Bem maior que essa distância
Foi a dor que carreguei
Em meu coração aflito,
Taciturno, tão contrito
Como nunca imaginei!"
"Para o Lar tu retornaste
Deixando mundo para trás!
O meu ser tu renovaste
De alegria tão veraz!"
"E com prazer festejaremos
Pela sua decisão
De voltar a sua casa
No triunfo da desgraça
E da terrível solidão!"
"Homens, velhos e meninos!
Nos alegremos com fervor!
Porque a este que é vindo
Do mundo mau se libertou!"
(Clenio Daniel Parente Mendes)
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