sábado, 12 de abril de 2014

A Doutrina do Amor

A doutrina bíblica do amor constitui-se um dos principais baluartes do cristianismo e, lamentavelmente, esquecida no púlpito das igrejas. Podemos definir o amor como o eixo central da vida cristã, o que vemos comprovado em 1 Coríntios 13. Contudo, o que percebemos são pessoas que professam a fé em Cristo com um modo de vida contrário aos princípios bíblicos.
Os grandes intérpretes da Bíblia sintetizam três tipos de amor: o amor agape, phileo e o amor eros. Vejamos, à luz das Escrituras, a definição desses três. 
1) O amor agape é apresentado nas Escrituras como  o amor de Deus, profundo, ardente, incomparável e sublime. É o amor com que Deus amou o mundo (Jo 3.16), com que Jesus amou os Seus (Jo 13.1) e com o qual o cristão corresponde a Deus através da observância aos seus mandamentos (Jo 14.21); o mesmo amor que Jesus requereu de Pedro (Jo 21.15) e, certamente, de todos quantos dizem servir ao Senhor de coração. 
O amor deve ser entendido, na sua essência, como um sentimento voluntário e predisposto e não algo obrigatório, ou seja, ninguém ama porque é obrigado a isso e sim porque tal sentimento é resultado da vontade própria de alguém. Assim, quando lemos que Deus amou o mundo (Jo 3.16), vemos no Deus Criador o anelo de aproximar de Si a criatura racional, isto é, o homem, uma vez distante da presença divina. Em momento algum encontramos na Sagradas Escrituras Deus obrigado a fazer alguma coisa em favor do homem, pelo contrário, o que move a potente mão do Senhor de forma graciosa sobre o mesmo é a Sua soberania e amor infinito. 
Escrevendo aos crentes em Corinto, o apóstolo Paulo diz: Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e a caridade [gr. Agape], estas três; mas a maior destas é a caridade [gr. Agape] (1 Co 13.13). Estas três coisas possuem algo em comum, como podemos ver: “Ora, a fé é... a prova das coisas que não se vêem” (Hb 11.1); “... a esperança que se vê não é esperança; porque o que alguém vê como o esperará? Mas se esperamos o que não vemos, com paciência o esperamos” (Rm 8.24,25); e, finalmente, o amor, uma coisa que também não se pode ver, não obstante, é uma realidade suprema que pode ser sentida qual vento que não é visto mas o percebemos através das suas obras. 
Interrogado por um Doutor da Lei acerca do grande mandamento, o Mestre Jesus lhe responde claramente: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: amarás o teu próximo como a ti mesmo. Desses dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas” (Mt 22;37-40). Entendemos, aqui, o que o amor segue duas linhas: a vertical (“amarás o Senhor, teu Deus”) e a horizontal (“amarás o teu próximo”). Uma vez que Cristo não veio revogar a lei, mas cumprir (no original, “completar”) e que “desses dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas”, Ele demonstrou isso por Si mesmo quando estava na Cruz do Calvário. Dela não fugiu por obediência e amor a Deus Pai e nela sofreu amargamente por amor ao pecador; Jesus, a maior personalidade da História! E o grande exemplo de alguém que amou a Deus e ao próximo até mesmo na dura cruz! 
A nascente Igreja do Senhor Jesus, nos seus primeiros anos, gozava de plena comunhão fraternal. Motivados por essa tal comunhão, realizavam, semanalmente, banquetes denominado “festa ágape” revelando, com isso, a convicção do amor profundo da parte de Deus entre Seus filhos e de uns para com os outros; a referência de Atos 2.42 dá ênfase a isto. 
O amor ágape, tendo sua origem em Deus, tem como objeto principal o homem, embora pecador e distante daquEle que o criou. Em algumas traduções, o termo em estudo vem substituído pela palavra “caridade” que é “o amor através das obras”. O amor de Deus está centralizado evidencialmente na obra da redenção feita por nosso Senhor Jesus Cristo. Outrossim, a maioria das vezes em que a palavra agape aparece nas Escrituras é no sentido verbal, ou seja, não basta um simples sentimento pois o amor genuíno provoca ação.  
2)Uma outra definição de amor está no termo grego phileo que denota “afeição por amigos ou parentes”. Quando o  Senhor Jesus interrogou a Pedro: “amas-me?” [gr. Agape], ele respondeu: “Sim, Senhor, tu sabes que te amo” [gr. Phileo] (Jo 21.15), mostrando simplesmente um sentimento de amizade. Na terceira vez o Senhor usou o termo phileo, razão pela qual Pedro se entristeceu levando-o também a reconhecer a onisciência de seu Mestre (Jo 21.17). O termo “filantropia”, do original philanthropia que significa “amor pela humanidade” descrevendo um amor expresso de forma social pelo bem humano. Associado ao termo phileo encontramos o vocábulo philostorgos citado em Romanos 12.10 para designar “amor fratenal”.  
3)Um outro termo para amor é a palavra eros, daonde vem o nosso adjetivo “erótico” que diz respeito ao desejo sexual. Ele aparece de forma ampla e erudita na filosofia de Platão e, portanto, não aparece nas Escrituras, mas, reflete um desejo sexual lascivo e fortemente intenso neste sentido que assinalamos. 

Na teologia bíblica, o amor é retratado sob três pontos de vista: (1) o amor de Deus ao homem, (2) do homem a Deus e (3) do homem para com os seus semelhantes. Vejamos: 

O amor de Deus ao homem é visto através da Sua compaixão e benignidade; isso é demosntrado em larga escla no Livro dos Salmos, onde os salmistas reconhecem que o Senhor é bom e que “a sua benignidade é para sempre” (Sl 106.1); o fato de Deus conhecer a nossa estrutura e que somos pó (Sl 103.14) indica a misericórdia divina sobre a criatura humana decaída. O amor do Senhor com o homem se revela por meio destes e outros atributos morais, fazendo-nos preceber a Sua preocupação com os homens (Dt 33.3), motivo de admiração e regozijo (Sl 8.4,5). Aos patriarcas, Deus manifestou o Seu amor por meio de consideráveis promessas e especialmente na escolha de Israel, tendo com isso um amor eletivo (Dt 7.7,8), um zelo profundo (Dt 4.24b). Em um sentido amplo, Deus ama todos os homens e estende sobre eles a Sua benevolência (Sl 104.14; 136.25; Mt 5.45). Mas a maior resposta do amor de Deus ao homem é dada na encarnação do Verbo (Jo 1.14), onde o Filho de Deus Se tornou homem para que os homens se tornassem filhos de Deus (Jo 1.12,13; Rm 8.29; Hb 2.10-12)! 

O amor do homem a Deus abarca a totalidade da nossa vida em obediência a Ele: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu poder” (Dt 6.5). Também se destaca na observação da Sua Lei que faz o homem afastar-se da impiedade (Sl 1.1,2) explicando-nos uma relação de amor e comunhão com o Senhor (Sl 73.28). Ainda na teologia bíblica, amar a Deus é também amar a Sua Palavra (Sl 119.97). No Novo Testamento, esse conceito é reforçado quando o Senhor Jesus nos diz: “Se me amardes, guardareis os meus mandamentos” (Jo 14.15). João, o apóstolo amado, diz: “Aquele que não ama não conhece a Deus, porque Deus é caridade” (1 Jo 4.8). Nestes e outros versículos encontramos uma relação de amor e obediência dando-nos a entender que “obedecer” ao Senhor ou “ouvir as Suas Palavras” é uma prova de quem verdadeiramente O ama (Jo 14.21,24; 1 Jo 5.3). 

O amor do homem para com os seus semelhantes e algo respaldado na lei mosaica (Lv 19.18), confirmado pelo sábio rei Salomão (Pv 25.21,22), e, principelmante, pelo Senhor Jesus (Mt 5.44-46). Sendo o amor a base do Cristianismo, quem não o pratica ainda está preso à falsa religiosidade, qual árvore sem fruto, odres sem vinho (Mt 9.17), etc. Não era do agrado do Senhor que Seu povo Israel se misturasse com as nações gentílicas, por outro lado, não deveriam oprimir o estrangeiro que viesse morar no meio deles (Êx 23.9) isso parece mostrar o propósito de Deus em que as nações seguissem o exemplo de Israel e nunca o contrário como infelizmente acxonteceu. Amar o próximo aparece na Lei de Moisés no sentido de não prestar falso testemunho contra ele (Êx 20.16), não agir de maneira ousada contra ele (Êx 21.14) e, junto com ele, prestar culto a Deus (Êx 12.4) dentre outras coisas que dizem respeito a “amar o próximo”. O salmista reconheceu a importância de amar o seu semelhante através de um tratamento ético e justo (Sl 15.1-3). Os apóstolos no Novo Concerto não deixaram de lado este santo preceito (Rm 12.9,10,14,15,17,20,21; 1 Pe 4.8; 1 Jo 2.9-11; 3.14-18).

A doutrina bíblica do amor deve ser resgatada no púlpito das Igrejas e reacender no coração dos que professam a fé no Senhor. Oremos a Deus para que o Seu amor seja como fogo inextinguível dentro de nós; sem amor, não há proveito algum em agradar a Deus e tudo não passará de uma crença rotineira e tediosa.

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