sexta-feira, 7 de junho de 2013

Descendo da Cavalgadura

Mas um samaritano que ia de viagem chegou ao pé dele e, vendo-o, moveu-se de íntima compaixão. E, aproximando-se, atou-lhe as feridas, aplicando-lhes azeite e vinho; e, pondo-o sobre a sua cavalgadura, levou-o para uma estalagem e cuidou dele - Lucas 10.33,34 

Estamos vivendo no fim dos tempos. Porém, sabemos que o amanhecer de uma vida plena em Cristo é antecedido de um período obscuro de provações. A Bíblia Sagrada está repleta de exemplos, tais como: O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã (Sl 30.5), A noite é passada, e o dia é chegado (Rm 13.12); nestes e em muitos outros versículos, a noite sempre antecede o dia. Não há amanhecer sem anoitecer. A Igreja está no "choro da noite", crendo que o Sol da Justiça, Jesus Cristo, resplandecerá, aparecendo em glória e excelsa majestade para nos levar ao encontro de Deus Pai. Maranata! 
São muitos os fatores desastrosos que vem manchando a sociedade, mutilando lares, ferindo a integridade no seio familiar. É a noite propriamente dita, que parece não dar lugar ao despontar do novo dia. À semelhança do viajante que "descia... de Jerusalém para Jericó" (Lc 10.30), a sociedade está "descendo", isto é, regredindo, sofrendo os ataques do pecado, sendo vitimada pelos dardos inflamados do maligno. Triste é a realidade de quem prefere Jericó (o mundo de pecados), desdenhando Jerusalém (a presença de Deus), e com isso, sofrem os terríveis flagelos que o diabo impõe, sujeitando-lhe a criatura, feita pelo Deus vivo à Sua imagem e semelhança.
Os salteadores desta vida estão atacando à torto e à direito. A violência doméstica, a rebeldia dos filhos contra os pais, a promiscuidade entre moças e rapazes no vigor da juventude e tantas outras coisas que vem afetando até mesmo a Igreja de Deus. Os males vão aflorando, deixando as vítimas, muitas vezes, desarmadas, inseguras e sem esperança de auxílio. Aonde está a Igreja? À semelhança do sacerdote e do levita, "vendo-o" e passando de largo (Lc 10.31,32). Sejamos como o samaritano, que indo de viagem, viu o moribundo e dele se compadeceu, prestando-lhe socorro. Algumas lições preciosas podemos auferir desse ilustre personagem: 
1) Ele não olhou para a diferença social - O Apóstolo João diz que os judeus não se comunicam com os samaritanos (Jo 4.9). O tal moribundo no caminho certamente era judeu. O samaritano, "que ia de viagem" (Lc 10.33), ao vê-lo, podia muito bem seguir seu itinerário, contudo, não olhou para a barreira social existente entre seu povo e o povo judeu e tratou de socorrê-lo. Esse deve ser o perfil de uma Igreja que julga ser cristã e que afirma pregar o Evangelho verdadeiro; não deve haver diferença de gênero algum para quem afirma viver no amor de Cristo (Cl 3.14,17; 1 Pe 4.8). 
2) Ele não se deixou levar pelo individualismo - Tanto o sacerdote como o levita, ao verem o homem ferido no chão, se mostraram inerte ao sofrimento de seu irmão. Com isso, esbanjaram o individualismo, menosprezando o seu próximo. Uma Igreja individualista não pode agradar a Deus (Sl 133.1).Encontramos nas Escrituras termos que comprovam que a Igreja de Cristo tem que ter espírito coletivo: amai-vos uns aos outros (Jo 13.34), consolai-vos uns aos outros (1 Ts 4.18); exortai-vos uns aos outros e edificai-vos uns aos outros (1 Ts 5.11), suportando-vos uns outros e perdoando-vos uns aos outros (Cl 3.13). Segundo a Escritura, isso é fortemente confirmado, mormente quando amamos a quem nos aborrece. Disse o Senhor Jesus: Pois, se amardes os que vos amam, que galardão tereis? Não fazem os publicanos também o mesmo? (Mt 5.46). 
3) Ele não olhou para o preconceito racial - Os judeus discriminavam os samaritanos no mais alto grau (ver Jo 8.47,48). Qual seria a sensação dos judeus ao ouvirem dos lábios de Jesus que o seu conterrâneo ali ferido, um judeu, fora amparado por um samaritano? Certamente eles ficaram atônitos. A prontidão do samaritano (que também era descendente de Abraão) em ajudar o pobre moribundo revela a sua reação aos preconceitos que sofria. Do mesmo modo deve ser a Igreja do Senhor Jesus. Ela deve reagir a toda a espécie de preconceito de forma a superar esses ataques vencendo-os através do amor de Deus... derramado em nosso coração pelo Espírito Santo que nos foi dado (Rm 5.5). 
4) Ele desceu da cavalgadura - Com o sentimento de compaixão que o samaritano tinha, era impossível ver o sofrimento daquele ferido viajante e não exercitar a misericórdia para com ele. Como podemos ver Deus atender ao necessitado se nós, o corpo de Cristo, não nos dirigimos até ele? Cristo quer Se revelar ao oprimido, ao sorumbático, ao desamparado e ajudá-lo, entretanto, Ele deseja fazer isso por meio do Seu corpo, a Igreja. Quantos feridos ao nosso redor, vivendo em extrema penúria, material e espiritual, clamando por socorro? Como o samaritano, temos que nos aproximar dos tais, ou seja, descer da cavalgadura; sair da zona de conforto e chorar com os que choram (Rm 12.15). Permanecer na cavalgadura é ficar a par das vicissitudes de outrem, sem ao menos perceber que, no amanhã, nós careceremos de tamanha hospitalidade, amparo, consolo, fatores estes que o nosso próximo tanto espera receber de nós. 
Uma Igreja que não preza por viver no amor de Cristo e seguir a misericórdia não tem a Palavra de Deus como sua regra de fé, pois, é ela que nos orienta a viver uma vida dosada do amor e da graça divina, a fim de alcançar aos que ainda não receberam o gozo da salvação em Cristo.

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